quinta-feira, agosto 28, 2008

desfragmentação


"O sono não chega nunca. Se chega, acaba rápido. Que criatura teria tanta preocupação que, considerasse o ato de dormir uma coisa praticamente inacessível? Associava dormir a um tipo de entrega, dessas que se faz de olhos fechados, e venha o que vier. Era isso que a sitiava? Estava presa em sua própia inquietação de espírito e não conseguia passar para o lado de lá.


Podia ser compatível com excesso de desejos. Cada dia, partido em horas, que se partiam em minutos, tinham significação e exigiam racíocinio especifico. Já era automático. Estranho colocar desejo e raciocínio na mesma frase, já que a incompatibilidade entre os dois é descarada. Mas era essa mistura que parecia gerar toda essa insensatez.


Não era justo, não conseguir entregar o corpo a um descanso e passar o dia com os olhos pesados, por causa da fadiga gerada por desejos incompreensíveis e inomináveis. Seriam todos assim? Outro erro. Que vício desnecessário era esse, a comparação. Tinha se apropriado dessa obsessão desde que começou pensar. E isso só paralisava, deixando-a correndo como atrás, ou em círculos, como se o progresso pessoal fosse uma utopia. Era isso. A utopia da definição individual e da conquista que seria prosperar em alguma atividade.


Além disso não podemos deixar de falar do amor. Essa graça que vem permeando os corações humanos também representava uma boa perda de sono diário. Quando desejava alguém era impossível conter os pensamentos enérgicos, impetuosos e as fantasias romanticas e mirabolantes que pareciam brotar como flores em sua cabeça. A frase que mais gostava era quando Mr. Darcy fala, numa mistura de alívio e confissão, 'I Love you....Most Ardently' para Lizzie, na história de Jane Austen. Gostava do ardently. Se identificava com a veemencia e o ardor, que a faziam dela uma pessoa desassossegada.


Era essa sua natureza. Incandescente, arrebatada por qualquer micro sentimento ou pensamento cotidiano. Grande para as coisas que não se pode nomear, subjetivas e complexas, e, pequena para as coisas práticas, lógicas e nítidas."


D.F.

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